quinta-feira, 24 de março de 2011

Bailarina

Mesmo tentando esquecer, a sapatilha me chuta para lembrar-me de que ela existe, vez ou outra se enganchando no meu bolso. Mas que tipo teria a idéia de me presentear com objeto tão curioso para guardar minhas chaves?

Uma sapatilha que não caberia no pé nem de uma pequena bailarina, por mais jovem que fosse, e é por isso que não cumpre sua função original e agora toma conta do que não nasceu pra proteger. Antes continuasse envolvendo pés pequenos e fortes, amarrando em segredo o punhado de machucados que só o pé de uma bailarina conhece, mas não; trancafia portas cada vez mais distantes.

Seria injustiça continuar acusando a sapatilha de se pendurar nas chaves, afinal eu mesmo as coloquei ali, juntas. Poderia ter usado como um amuleto em qualquer mochila esquecida nos poucos cantos livres do quarto e tenho certeza de que mesmo assim eu me lembraria dela. Espero que isso só acabe quando eu não tiver mais bolsos: os pés não precisarão mais se proteger.

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