sábado, 13 de setembro de 2008

Na pegada

De volta na pegada aqui estou eu, quer por uns três anos me esqueci de quem realmente eu era. Falando sério agora, a depressão é uma coisa tão peguenta e que corrói tanto que outro dia acordei me lembrando de um cheiro que eu não sabia bem do quê.

Juro. Acordei, fui para a cozinha dar comida para as gatas e lembrei de um cheiro. Tentei sentir, andei por uns 20 minutos pela casa toda e não senti. Mas me lembrava que era algo conhecido, extremamente próximo a ponto de ser confidente. Me sentei no computador, li, escrevi, tentando me lembrar do que era. E exatamente eu não me lembro até agora, só sei quando eu sentia e o que eu sentia.

Estava com meu joelho fodido e a perna com tala por 3 meses, acordava la pelas 10h da manhã em minha antiga casa, jogava com meus amigos e sentia isso. O chão de taco, sol batendo por uma janela fodida cheia de cupim. Sem rumo nenhum, havia a largado a faculdade por desgosto, perdido a namorada e com complicações o suficiente no trabalho pra não ter que voltar nunca mais. E sentia aquele cheiro.

Só que o pior já tinha passado, eu tinha muito o que planejar e executar. E o cheiro me acalmava. Talvez tudo aquilo fosse o sol batendo no chão com pedaços de madeira cheios de cera, talvez nunca tenha sido nada de especial, mas eu vou voltar pra lá e espero sentir isso novamente...

como senti hoje, no set de filmagem, trabalhando pra cacete esporadicamente, em outras horas conhecendo pessoas interessantes o suficiente para que possa escrever histórias. Cada uma com uma amargura e delicadeza de lascar, de ter me visto em papel ativo ou de vítima em cada uma delas, mas a cada lágrima que reclamam eu até me arrependo de arregaçar um canto de sorriso no rosto e pensar que entendo.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

e se me pergunta, lhe digo como foi....

"Minha Última Noite Como Estrangeiro"

"Depois de alguns dias ressecados e noites mal dormidas eu não conseguia mais raciocinar com a mesma sagacidade de antes. Havia sido cuidadosamente surrado e moldado durante os meses que antecediam minha fuga pelo único pensamento de me vingar, mas caminhar pelos ermos desconhecidos e áridos acabou afetando tudo o que eu pensava ou percebia à minha volta.

Eu corria com o sol nas costas e dormia quando conseguia abrigo, durante os picos de luz. Me distanciava cada vez mais do extremo Leste e me sentia cada vez mais livre, o que realmente incomodava era a preocupação coms os que deixei para trás que não deixava minha alma.

Certa noite fui obrigado a me entranhar em uma caverna na rocha por causa do frio, nem os ratos noturnos tinham coragem de botar seus narizes para fora da toca e eu já conseguia ver o calor do meu estômago saindo pela minha boca. Aquela abertura não era nada profunda, parecia um pequeno caixão quando entrei na fissura rochosa e por isso fiquei com o rosto ao luar, vendo as estrelas tentando direcionar minha andança quando acordasse.

Pouco antes de dar a última piscada antes de dormir eu ouvi. Digo ouvi pois quando se está no deserto o que se tem a escutar são apenas os ruídos que nós mesmos fazemos e o vento. Pois ao longe no vale eu ouvi um ranger de madeira, alguns cascos de cavalos carregados e de repente tudo aquilo não era mais deserto. "


- Sh´Quan, Grãos do Leste